5.1.07

Prémio Goncourt "Les Bienveillantes" sairá na Dom Quixote









Les Bienveillantes, de Jonathan Littell (ed. Gallimard) vai ser publicado em Portugal pela editora Dom Quixote durante este ano. O romance "sensação" da última Feira do Livro de Frankfurt, de 900 páginas e que já tinha sido vendido para a Alemanha, Itália e Holanda, foi escrito pelo filho de Robert Littell (ex-jornalista e escritor de "thrillers") e ganhou o Prémio Goncourt. Jonathan Littell, actualmente a viver em Barcelona, é americano e escreveu o romance em francês. Vasco Pulido Valente, na sua coluna do PÚBLICO, publicada a 23 de Dezembro 2006, intitulada "Os livros do ano" escreveu: "Se há possibilidade de compreender um executor da "Solução Final", Les Bienveillantes é a aproximação mais verosímil. De Berlim à Lituânia e da Lituânia ao Cáucaso, o horror cresce com uma lógica irresistível e prosaica, que Max Aue [a personagem, um oficial SS] aceita como a própria expressão de uma necessidade exterior e que não põe em dúvida, explica ou justifica. A passagem sobre o massacre de Babi-Yar, por exemplo, alucinante e metódica, mostra uma espécie de homem que mesmo hoje não se consegue conceber. O génio de Littell, um americano educado em França, está em o tornar real." (fonte: Público)



Os livros do ano
Vasco Pulido Valente

Os "livros do ano" são aqui os livros que saíram este ano e os livros que por acaso li ou redescobri este ano. Com este aviso, começo por um livro português, D. Carlos de Rui Ramos (Círculo de Leitores, 2006). D. Carlos é uma biografia que não é só uma biografia, é a história de uma época ou, mais precisamente, da decadência e queda do regime monárquico. Há muito tempo que não se escrevia nada de comparável. Céptico, penetrante, minucioso, D. Carlos diz mais sobre o país pobre e patético que nós somos do que toda a "análise política" por aí à venda. A seguir a Rui Ramos, talvez seja apropriado falar do romance de Jonathan Littell, Les Bienveillantes, As Fúrias (Gallimard, 2006), o último prémio Goncourt, que conta a carreira de Max Aue, um oficial SS, durante o nazismo e a guerra. Se há possibilidade de compreender um executor da Solução Final, Les Bienveillantes é a aproximação mais verosímil. De Berlim à Lituânia e da Lituânia ao Cáucaso, o horror cresce com uma lógica irresistível e prosaica, que Max Aue aceita como a própria expressão de uma necessidade exterior e que não põe em dúvida, explica ou justifica. A passagem sobre o massacre de Babi-Yar, por exemplo, alucinante e metódica, mostra uma espécie de homem que mesmo hoje não se consegue conceber. O génio de Littell, um americano educado em França, está em o tornar real. Muito longe da monstruosidade moderna, God"s War de Christopher Tyerman (Penguin, Allen Lane, 2006) é a primeira história geral das cruzadas depois da história já clássica de Steve Runciman. Quem acredita na ideia corrente de uma agressão da Cristandade militante a um pacífico mundo muçulmano devia tirar uma semana para as mil e tantas páginas deste livro erudito e tranquilo. Aprendia alguma coisa e deixava de engolir facilmente a propaganda oficial. Fora o que se publicou em 2006, duas descobertas. Para começar, a Histoire de l"Affaire Dreyfus de Joseph Reinach (Robert Laffont, Bouquins, reedição de 2006), o dia-a-dia do Affaire, de que nasceu em grande parte a I República Portuguesa e, muito pior, a nefanda personagem do "intelectual", que nunca mais nos largou. Mas também um retrato do pior da França, isto é, da França habitual. E, para acabar, O Bom Soldado Shweik, de Jaroslav Hasek (na edição integral e na tradução inglesa, reconhecidamente a melhor, Penguin Classics), um dos grandes romances que jamais se escreveram e sobre que seria estúpido e pedante dissertar agora. Excepto para dizer que me ri como nunca me tinha rido antes com livro nenhum.